domingo, 15 de junho de 2014

OS 2 SOBREVIVENTES - UMA HISTÓRIA DE AMOR QUE NÃO ACABOU EM CASAMENTO

No início do século 19, os navios demoravam até cinco meses para navegar da Inglaterra até o leste da Austrália, uma viagem nada fácil de 19 mil quilômetros. Geralmente, as centenas de passageiros — a maioria composta de emigrantes e prisioneiros — ficavam apinhadas abaixo do convés principal. Condições deploráveis como náuseas, subnutrição e doenças prevaleciam durante a viagem. Os navios eram infestados de insetos e outras pragas. A morte era comum.Mesmo assim, a esperança de uma vida melhor dava a muitos passageiros força e resistência.
Em 1852, as viagens começaram a melhorar quando o capitão James Forbes descobriu uma rota mais curta fazendo a viagem da Inglaterra até o sudeste da Austrália seguindo a rota do círculo máximo, que passava ainda mais pelo sul em direção à Antárctida e reduzindo o tempo de viagem quase para metade.Tinham que entrar no estreito de Bass que é um dos trechos mais perigosos do mundo. Ali, fatores como ventos fortes do oeste, águas rasas com uma profundidade média de 60 metros e intensas correntes marítimas agitam o mar e criam enormes ondas. Visto que os navegadores ficavam extremamente tensos ao entrar no estreito pelo oeste, essa travessia foi comparada a ‘passar pelo buraco da agulha’.

Esse recorde veio em boa hora porque a corrida do ouro em Victoria estava no seu auge. A notícia dessa viagem rápida levou milhares de pessoas a fazer de tudo para ir à Austrália e à Nova Zelândia em busca de ouro.
Os navegadores usavam um sextante e um conjunto de tabelas para calcular a latitude. Para determinar a longitude, eles usavam o cronômetro do navio, que era ajustado de acordo com a hora de


Greenwich.
Mas os cálculos nem sempre estavam certos ...as nuvens talvez obscurecessem o Sol por dias a fio, e os cronômetros primitivos nem sempre eram exactos.Por causa de chuva, neblina ou escuridão, navios à deriva podiam errar a entrada do estreito de Bass e serem destroçados no litoral rochoso de King Island ou de Victoria.

Antes de amanhecer o dia 1.° de junho de 1878, um 
clíper (tipo de veleiro) de nomeLoch Ard navegou através de densa neblina em direção ao litoral de Victoria. Por causa dessa neblina, que já durava dois dias, o capitão teve dificuldade em usar o sextante para descobrir sua localização ao meio-dia. Em resultado disso, ele estava bem mais perto do continente australiano do que imaginava. 
De repente, a neblina se dissipou, revelando penhascos íngremes de até 90 metros de altura a apenas uns dois quilômetros de distância. A tripulação se esforçou desesperadamente para mudar a direção do navio, mas o vento e a maré os impediram. Em menos de uma hora, o Loch Ard espatifou-se ao bater num recife e afundou quinze minutos depois.
Das 54 pessoas a bordo, apenas duas sobreviveram — um aprendiz de marinheiro, Tom Pearce, e uma passageira, Eva Carmichael, ambos com menos de 20 anos de idade. Tom suportou as águas geladas do inverno por horas, ficando agarrado a um bote salva-vidas virado. Finalmente, a maré o levou a uma passagem estreita entre os rochedos. Ao ver uma pequena praia cheia dos destroços do navio, ele nadou até lá à procura de um lugar seguro. Eva não sabia nadar e ficou umas quatro horas agarrada aos destroços que ainda estavam no mar. Depois disso, foi levada pela água para a mesma passagem a que Tom havia sido levado. Ao vê-lo na praia, ela gritou por ajuda. Tom pulou na água e, depois de uma hora de muito esforço, conseguiu resgatá-la semiconsciente. Ela conta: “Ele me levou para uma caverna assustadora a mais de 50 metros da praia. Então encontrou uma caixa de conhaque, quebrou uma garrafa e me fez beber um pouco. Isso me ajudou a recobrar os sentidos. Daí, usando ramos e folhas, ele fez uma cama para eu deitar. Logo fiquei inconsciente e devo ter ficado assim por horas.” Enquanto isso, Tom subiu o penhasco e conseguiu ajuda. Menos de 24 horas depois que o Loch Ard afundou, Tom e Eva foram levados para uma fazenda próxima. 
Hoje em dia, milhares de embarcações, grandes e pequenas, navegam em segurança pelo estreito de Bass todos os anos. No caminho, eles talvez passem por lugares onde ocorreram centenas de naufrágios confirmados.  Esses lugares lembram-nos das pessoas corajosas que, depois de partirem do outro lado do mundo, conseguiram atravessar o trecho final da viagem — o “buraco da agulha” — em busca de uma vida melhor.



O QUE ACONTECEU a TOM E EVA?
  Tom Pearce e Eva Carmichael, os únicos sobreviventes do naufrágio do Loch Ard, logo se tornaram celebridades na Austrália. “Os jornais, que usaram de sensacionalismo para descrever o naufrágio, consideravam Tom Pearce um herói e Eva Carmichael uma beldade, e queriam que os dois se casassem a todo custo”, disse o livro Cape Otway—Coast of Secrets (Cape Otway — A Costa dos Segredos). Embora Tom a tenha pedido em casamento, Eva recusou e voltou à Irlanda três meses depois. Ali, ela se casou e teve filhos. Eva morreu em 1934 aos 73 anos. Tom voltou a navegar e logo naufragou pela segunda vez. Novamente sobreviveu. Depois de trabalhar por muitos anos como capitão de navios a vapor, morreu em 1909, aos 50 anos

1 comentário:

  1. Estas reentrâncias são impressionantes, especialmente pelo tamanho e não são facilmente visíveis do mar.ZM

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